O HPV, já considerado um dos
principais causadores do câncer bucal, incide cada vez mais em pacientes com
menos de 40 anos - mais de 1/3 desta faixa etária. Entre os jovens com tumores
na cavidade oral, a presença do vírus é de 32%. Há 20 anos, os registros de
câncer bucal e garganta eram quase que exclusivamente entre pessoas acima dos
50 anos. Hoje, cada vez mais pessoas mais jovens (até os 40 anos) têm
apresentado tumores malignos na boca.
Estas pessoas não são tabagistas, nem etilistas, mas têm HPV, vírus para o qual existe prevenção, a vacina. Por esta razão é importante lembrar o Dia Internacional da Saúde Bucal e conscientizar a população sobre os riscos de relações sexuais desprotegidas, em todas as idades, além de evitar vícios como o do cigarro e do álcool, que, associados, somatizam-se
Afirma o dr. Silvio
Cecchetto, presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-dentistas, entidade
que há 5 anos realiza o evento.
Mudança de perfil - Com a
queda do consumo do tabaco, esperava-se diminuir a incidência e a mortalidade
do câncer, mas houve uma mudança de perfil. Está caindo o número de cânceres relacionados
ao tabaco, devido às campanhas de controle, mas estão aumentando os casos relacionados
ao HPV. Pesquisadores apontam que, até 2030, o número de casos relacionados ao vírus
HPV deve superar os casos ligados ao tabaco nos Estados Unidos.
HPV: na amídala, crescimento
de 25% para 80% em 20 anos - Um estudo atual, feito com orientação da bióloga e
geneticista do A.C. Camargo e da Universidade Estadual Paulista (Unesp),Sílvia
Regina Rogatto, aponta que em casos de câncer de amídala a incidência do HPV
cresceu de 25%, registrados há 20 anos, para 80%.
A estomatologista Fabiana
Quaglio, assessora científica da ABCD, relata que em outra pesquisa, comandada
por Luiz Paulo Kowalski, diretor do Departamento de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço do Hospital AC Camargo, os médicos detectaram que 32% dos casos de
câncer de boca em jovens adultos eram em portadores do vírus. Em pacientes
acima de 50 anos, a presença do vírus foi detectada em apenas 8%.
Também o estudo feito por
Silvia Rogatto e sua equipe em pacientes do A.C. Camargo (SP) e no Hospital do
Câncer de Barretos, descobriu que 80% dos pacientes da Capital são positivos
para a presença do vírus enquanto os voluntários de Barretos correspondem a
15%.
Beijo na boca transmite – “A
presença em grandes capitais é mais evidente, pois os hábitos costumam ser um
pouco diferentes", analisa Kowalski. Mas não se deve relacionar a
transmissão exclusivamente à atividade sexual, apesar do sexo oral desprotegido
ser um dos fatores principais de contaminação. O vírus pode ser transmitido por
saliva, com um beijo na boca, por exemplo.
Estima-se que entre 25% e
50% das mulheres e 50% dos homens estejam infectados pelo HPV em todo mundo. Mas
a maioria das infecções é transitória, sendo combatida espontaneamente pelo sistema
imune. De acordo com pesquisas feitas entre homens norte-americanos, mexicanos
e brasileiros, ao menos 2% da população adulta tem o vírus HPV e não apresenta
nenhum sintoma.
Sintomas - Existem papilomas
que são como verrugas que podem aparecer na garganta ou na boca. Quem apresenta
alguma ferida deve observar se ela está demorando a cicatrizar. Porém, mesmo quando
o tumor maligno já se desenvolveu, pode não haver lesão visível. Em outros casos,
pessoas que tiveram infecção podem não ter anticorpos elevados também. "A
infecção pode ser silenciosa”, conta o médico.
No geral, cânceres de boca e
garganta podem apresentar os seguintes sintomas: dor constante, nódulo,
dificuldade para mastigar, rouquidão, dor na língua e mau hálito persistente.
"Quanto mais precoce o diagnóstico, melhor, pois o tratamento não é tão
agressivo e as chances de recuperação são maiores. Uma lesão que durar mais de
15 dias é porque tem algo errado."
Os tumores ligados ao HPV têm
uma taxa de cura maior do que os associados a tabaco e ao álcool. “Eles
respondem melhor ao tratamento, tanto com cirurgia, que geralmente é seguido de
radioterapia, quanto na associação de radioterapia e quimioterapia."
Prevenção - Para o oncologista,
a vacinação é a melhor forma de se prevenir. Ela dá imunização fazendo as três
doses e é fundamental que se inicie uma campanha para vacinar todo mundo, principalmente
meninos e meninas antes de iniciarem a vida sexual. "Nós precisamos
começar a trabalhar agora para ter efeito daqui
15 ou 20 anos", destaca o oncologista.
Outras formas de prevenção
são: sexo seguro, se alimentar bem, não fumar, não beber, boa higiene oral e
evitar traumatismos. "Um terço dos casos de câncer poderiam ser evitados
se houvesse alimentação adequada e a prática de atividades físicas",
explica o nutricionista Fábio Gomes da Silva, da Unidade Técnica de
Alimentação, Nutrição e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca) Inca.
Verduras e frutas, especialmente as cítricas, são protetoras. "A
alimentação corresponde de 20 a 30% na prevenção”.
Cirurgião-dentista -
O cirurgião-dentista é o profissional apto a detectar precocemente o câncer bucal.
Além disso, é importante fazer o autoexame da boca com frequência e em caso de anormalidade,
consultar o cirurgião-dentista que inspeciona a mucosa, da bochecha, abaixo da língua,
acima, e observa se há manchas avermelhadas e esbranquiçadas e/ou pequenos
nódulos, destaca a estomatologista da ABCD. No caso de lesões suspeitas o
paciente é encaminhado para atendimento especializado.

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