Hoje, 26 de abril, o Brasil
registra mais de 4 mil mortos por Covid-19. Aqui em São Paulo o governador,
João Doria, diz que vai avaliar uma flexibilização da quarentena a partir do
dia 10 de maio. Ao mesmo tempo que não vejo a hora de voltar à rotina, confesso
que ainda sinto medo.
Será que está na hora de
flexibilizar? Mesmo com a quarentena decretada muita gente está pelas ruas.
Ontem fui levar compras para minha mãe e o que vi foi muita gente andando de
bicicleta, correndo, brincando. Na avenida Anhaia Mello, na zona leste, era
difícil lembrar que estamos em quarentena. O mesmo na avenida Sumaré, aqui na
zona oeste.
Fico pensando se com a
flexibilização não haverá uma empolgação total e com isso um número ainda maior
de casos. Entendo que a economia precisa ser retomada, mas pessoas mortas não
trabalham. Não temos como aumentar significativamente o número de vagas em UTI,
não temos mais equipes médicas. Os hospitais públicos estão lotados.
Como tenho feito nos últimos
dias, resolvi ouvir a opinião de algumas pessoas, acredito que trocar
informações é sempre positivo, ainda mais em uma situação que envolve a todos.
Para a professora de inglês,
Denise Domingues, a quarentena afetou muito pouco a rotina, já que ela trabalha
100% a partir de casa, desde 2016. “Tenho um espaço próprio para ministrar
minhas aulas. Com a decretação da quarentena, passei a trabalhar online, saindo
de casa apenas para o mínimo essencial. Partindo do princípio do bom senso, sem
dúvida a flexibilização é necessária, pois a economia é, sim, importante, e nem
todo mundo tem renda garantida. Eu mesma não tenho. Mas é fundamental as
pessoas entenderem que uma data marcada para o início da flexibilização não é
uma data marcada para o vírus desaparecer. Uma multidão entrando num shopping
no primeiro dia de flexibilização, como vimos acontecer em Santa Catarina, não
é, definitivamente, um quadro positivo. Não pretendo me descuidar, pois não me
tranquiliza saber que haverá um leito e uma UTI me aguardando num hospital. Não
quero usar nada disso. Minha flexibilização pessoal será bem mais lenta do que
a oficial."
A jornalista e psicanalista,
Patrizia Corsetto, ressalta que “nunca em nossos devaneios mais loucos
imaginaríamos uma situação como a que estamos vivendo. Estávamos acostumados a
acompanhar pela TV as grandes catástrofes mundo afora aliviados por estarmos no
Brasil. Um país acolhedor e com pessoas cordiais. Fato é que a pandemia chegou,
nos assolou, e o país acolhedor e as pessoas cordiais caíram por terra. Não
somos, nem uma coisa nem outra. Não temos um governo responsável, não temos
políticas públicas, não pensamos nos menos privilegiados e demos de cara com
uma parcela da sociedade egoísta, sem nenhuma civilidade e cuidado com si
próprio e com o outro. Temos um presidente que menospreza e minimiza a pandemia
e parte da sociedade que sai às ruas pedindo o fim do isolamento social,
impedindo até a circulação das ambulâncias. Enfim, parece que para essas
pessoas a vida nada vale. Nem a delas própria.
Com os números dobrando ou triplicando a cada dia, sub
notificações, o claro colapso do sistema de saúde, público e privado, do
afogamento do sistema funerário, pensar em saída do isolamento social é pular
no precipício sem equipamento de segurança. É preciso sim, pensar na economia,
mas a preservação da vida, ainda é o bem maior. Com relaxamento ou não, do
isolamento social, continuarei me mantendo segura, e indo às ruas, em caso de
extrema necessidade. Está bem claro para os que acreditam e confiam na ciência
que este vírus não está de brincadeira e teremos sim, que alternar períodos de
abertura e fechamento. Uma saída agora, no olho do furacão, é um salto de peito
aberto para a morte. Cuidem-se, sejam desobedientes. Fiquem em casa!”,
finaliza.
Para a Relações Públicas,
Elizabete Nicastro, a quarentena não mudou a rotina. “Não parei um minuto.
Tenho trabalhado mais do que antes, tanto em casa quanto no escritório. Não
vejo a hora de terminar para descansar um pouco. Receio somente de fazer
compras no supermercado”, comenta.
Trabalhando em uma empresa
da área médico hospitalar, Sebastian Gondin, é outro que não parou na
quarentena. Ele diz que tem medo no próprio ambiente de trabalho, já que convive
com médicos, enfermeiros e representantes que constantemente frequentam
hospitais. “Venho e volto de máscara profissional. Ao chegar passo álcool em
tudo que está próximo, mas no primeiro contato com alguém que fala um pouco
mais próximo, bate um medo e uma neura imediata. O chefe liberou umas cinco
pessoas (das 200 que trabalham aqui) para home office, mas se arrependeu e
chamou de volta. Assim tem sido o nosso dia a dia. A maioria dos que aqui
trabalham vem de trem ou de metrô (lotado). Por mim ficaria em casa sem sombra
de dúvidas. Gosto de fazer cursos online, preciso ler mais livros, tem muitas
séries que preciso por em dia, praticar teclado... enfim, não seria um
sacrifício ficar em casa nesse momento.”
Raimunda Caberlingo, que
trabalha com a área financeira de um Sindicato, diz que está como a maioria dos
brasileiros, vivendo uma época de muita ambiguidade. “É um sentimento de medo,
por conta do que vamos enfrentar em um futuro bem próximo em relação à economia
e empregos e por outro lado o medo do contágio, embora as autoridades de saúde
digam que 70% de nós seremos contaminados e desses 70% apenas 15% precisarão de
internação e dentre eles 5% de intubação e ventilação mecânica. Mas isso não
nos tira a preocupação de sermos um dos que venha a fazer parte da estatística
dos 15%.Espero sinceramente que ninguém da minha família, dos meus amigos venha
fazer parte dessa estatística. É claro que gostaria que nenhum ser humano
fizesse parte. Ninguém merece partir de uma forma tão dolorosa, não só em
relação aos sintomas, como em relação ao isolamento e a separação de seus entes
queridos. Infelizmente é uma realidade que não podemos mudar. Estou ansiosa
para voltar ao trabalho, claro que eu quero voltar, mas tenho medo do contágio.
É não está fácil nem para
quem está em casa, nem para quem está circulando pela cidade. Só nos cabe agora
torcer para que nossos governantes consigam agir com serenidade, pensando em
vidas, não nas próximas eleições. De qualquer forma, cabe a cada um de nós
também agir com responsabilidade protegendo a si e aos demais. Se puder, fique
em casa. Se não puder, proteja-se.
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