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Saiba como cuidar dos idosos no verão

A pandemia e eu ...





Mais uma vez trago um relato que não é meu. É um desabafo de alguém que viveu os dois lados da pandemia: profissional de saúde e paciente. Só espero que as pessoas entendam que nem todo mundo tem outra chance. O assunto é sério e deve ser tratado como tal. (Ana Azevedo)

Então chegou o ano de 2020, com uma visão emblemática de como seria esta época, lembro de quando eu era criança e assistia filmes de ficção com a visão futurista, será que iriamos chegar lá? Este era meu pensamento juvenil. Agora era meu presente cheio de esperança de um ano bom já que o anterior havia sido um tanto difícil, tinha a certeza de que seria melhor.

Sou enfermeira, trabalho com idosos, sou casada e tenho 3 filhos, além disso meus pais idosos moram comigo, eu gostaria de contar para vocês como vi, uma das mais devastadoras tragédias mundiais dos tempos atuais. Seria uma Guerra? Um Tsunami? Um Terremoto? Uma Erupção Vulcânica? Nada disso, foi algo tão pequeno, que não pode ser visto a olho nu, destruindo a vidas e sonhos de muitas pessoas.

Na virada do ano já se ouvia falar de um tal vírus que teria aparecido na China, com casos de mortes. Este vírus que havia surgido teoricamente no mercado de animais de Wuhan, um vírus que comprometia o sistema respiratório, porém como era em outro continente e muito distante, não foi dada a devida importância, no primeiro momento, e ninguém poderia imaginar as suas proporções.

Com o passar dos dias foram sendo veiculadas mais informações, este vírus com nome de Corona Vírus (devido sua aparência em forma de coroa), de uma família de vírus que provocam infecções respiratórias, com nome de COVID-19, com infecções assintomáticas até sintomas respiratórios graves, causando a morte de várias pessoas pelo mundo, e este vírus já era considerado uma ameaça mundial.

Até que em 26/02, surgiu em São Paulo o primeiro caso de Covid-19 confirmado no Brasil e pelo mundo já havia sido considerado Pandemia pela OMS.  Neste momento não tínhamos muitos detalhes sobre a forma de contaminação, e a informação era que esta doença poderia ser fatal principalmente aos idosos, crianças e pessoas portadoras de doenças crônicas como Diabetes e Pressão Alta, iniciando uma onda de medo. A partir deste momento começava uma luta diária, no meu trabalho e na minha casa para tentar conter esta ameaça.

Trabalho em um Residencial onde desenvolvo planos de cuidados, prevenção, tratamento e reabilitação de idosos, estabelecemos estratégias de contenção da infecção, envolvendo toda a equipe multidisciplinar desde cuidadores até a diretoria e equipe médica, em uma política de transparência com as famílias, focada diretamente no bem estar dos nossos hóspedes e segurança aos colaboradores.

A Equipe de Saúde está na linha de frente desta Guerra Injusta e mesmo com todos os esforços, infelizmente houve perdas de profissionais e de pacientes em todo país, e com isso vem a sensação de impotência. Até que no dia 08/05/20, após um dia todo com sintomas, meu esposo me levou ao hospital e após exames veio o diagnóstico COVID-19. Neste momento eu mudava de lado, a enfermeira virava paciente, e a incerteza invadia a mente. A cabeça roda e o medo invade o coração, vou morrer? Será que meu esposo e meus filhos estão contaminados? Como irei manter isolamento em uma casa pequena? Meus pais são idosos e agora? A preocupação e a ansiedade invadem os pensamentos e a sensação de falta de ar aumenta, dor no corpo, cansaço e dor abdominal. Como houve comprometimento pulmonar menor que 50%, o médico me deixou ir para casa, para me tratar e ficar em quarentena, remédios, picadas, exames, pânico, tudo misturado.

Cheguei em casa e não pude dar um beijo nos meus filhos Ariane e Lucas, pois a Aline que já é casada, mora em outro bairro.  Este foi o primeiro impacto, tendo em vista que esta era a primeira coisa que eu costumava fazer ao chegar em casa. O isolamento foi feito, meus objetos de uso pessoal foram separados, os utensílios da casa também, fiquei no quarto, só via  meus filhos de longe. Meu esposo foi contaminado, porém teve sintomas leves e ajudou a cuidar de mim. Tinha contato com o resto da família e com os amigos através das redes sociais, e foram longos dias, entre idas e vindas ao hospital, pois houve lesões pulmonares e estas apresentaram melhora muito lenta, mesmo tomando as medicações prescritas pelo médico e mantendo todos os cuidados.

É uma doença muito triste, o isolamento a deixa ainda mais cruel. Você fica  longe das  pessoas que ama, sentindo-se solitária e deprimida. No meu caso tive toda a atenção de meu esposo e meus pais, no sentido da alimentação e necessidades básicas, porém penso naqueles que tiveram que ficar internados, e acabaram na solidão, sem nem poder receber visitas. E nos casos letais não tiveram nem oportunidade de ter um velório, como cerimonia de despedida. Coisas que eu nem imaginava ver, que talvez eu só tivesse visto em livros de história ou ainda em filmes de terror.

Juntamente com minha aflição estava o desespero de milhares de pessoas pelo mundo e junto com este ataque sem precedentes, veio o distanciamento social, quarentena, aulas suspensas, cultos religiosos e missas proibidas e até o fechamento total do comercio e indústria em muitos lugares, pessoas sem poder ter seu sustento, pessoas sofridas, fome e falta de esperança.

Então em meio a este caos, uma luz de esperança, pessoas e empresas, solidarias, arrecadando alimentos para populações carentes, juntas de cientistas e profissionais da saúde empenhados em descobrir uma medicação eficaz e uma vacina, os governos negociando pelo mundo estratégias de retorno às atividades, no Brasil a esperança de retorno a vida “normal”.

Mas será que a vida vai voltar a ser como era antes? Eu acredito que não, pelo menos da minha parte espero que seja muito melhor, que as coisas simples da vida como um beijo em um filho ou o sorriso de uma criança, seja, valorizado, o abraço na família e nos amigos, uma ida ao cinema, passear de mãos dadas, caminhar pela areia da praia e sentir areia e a água do mar nos pés. Eu acredito que a Felicidade estará nas pequenas coisas, e passaremos a nos importar menos com coisas pequenas e dar valor ao amor. Hoje estou quase recuperada e agradeço a Deus, ao meus filhos e meu esposo, meus familiares, amigos e a todos que de qualquer forma participaram desta história comigo, desde aos mais próximos até aquela pessoa que esta muito longe e nem sabe que eu existo, mais que ajudou a outro ser humano, pois dentro do contexto desta pandemia, nos transformou, nos fez ver que, não há distinção  de pessoas e que somos uma única  raça. Somos Seres Humanos.

Silmara Cristina de Azevedo e Azevedo
Enfermeira



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