Moro nesse prédio há 18
anos, desde que me casei. No começo, os primeiros moradores acabaram ficando
muito próximos. As crianças eram amigas, tudo muito agitado e divertido. O
tempo foi passando, as crianças cresceram, algumas famílias mudaram e de
repente já não conhecia quase ninguém.
Eis que surge a pandemia.
Todos trancados dentro de casa. Alguns apavorados. O grupo de WhatsApp, criado
para servir de canal de comunicação entre os moradores, e que quase ninguém
tinha paciência de participar, tornou-se uma maneira segura de perguntar, reclamar,
trocar ideias, tudo de dentro de casa.
Poderia ser trágico, mas
acabou sendo cômico. Nos últimos cinco meses, teve gente que entrou, saiu, reclamou, apaziguou, vendeu, comentou, reclamou
novamente, entrou novamente, saiu
novamente... enfim
Acompanhando os temas,
comecei a perceber que sem querer, viramos uma grande família. Teve quem se
encantasse com o “sagui” que existe no prédio e que a maioria não fazia nem
ideia. Teve quem conseguiu se colocar no lugar do outro e entender que às vezes,
paciência é um santo remédio, teve quem passou a fazer compras para que a
moradora idosa não tivesse que sair na rua, ainda que ela fuja de vez em quando...
Conhecemos a playlist de
vários moradores (sugerindo músicas para relaxar), compramos máscaras da nossa
vizinha artesã que não conhecíamos. Tornei-me uma vendedora de mão cheia
(sempre fui péssima para vender qualquer coisa), vendendo os doces e massas da
minha irmã.
Criamos uma corrente esperando
o amolador de facas, só para avisar nossa vizinha que precisava de tal
prestação de serviço. Compramos verduras para ajudar o pessoal do cinturão de
Ibiuna, juntamos potinhos para o filho da vizinha colocar as tintas que ele
aprendeu a fazer. E num gesto ainda mais grandioso, nossa vizinha está disposta
a guardar o jantar do morador que voltou a trabalhar e que quando chega os
restaurantes já fecharam.
Resumindo, nos tornamos
pessoas melhores. Mais tolerantes, mais humanos, mais alegres, mais serenos e
tudo por que aprendemos a ouvir uns aos outros. Não conhecemos ainda os rostos
de todos, mas estamos conhecendo algo muito melhor, a alma de cada um.
Obrigada vizinhos!
Ótimo texto, assim como a convivência nesse condomínio. Obrigado por compartilhar.
ResponderExcluirAdorei conhecer seu blog prima, muito legal essa história... Eu acredito realmente que esse
ResponderExcluirvírus veio para nos ensinar muita coisa... Para evoluirmos 🙏🏼😍
Adorei Ana. Meu condomínio está assim tbm. Não conheço ninguém, mas ando me divertindo com o grupo q foi criado no ZAP. Compro o bolo da vizinha, dou risada de como o povo reclama por nada. Me preocupo em saber algumas coisas. E fico muito feliz em ver como as pessoas se prontificam em ajudar umas as outras. O mundo tem jeito sim😊
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